Todos nós, creio eu, somos muito zelosos com nossas motocicletas, principalmente se a moto em questão é uma reluzente custom. É certo que este zelo é diferente para cada um. Alguns são um pouco desleixados, outros moderados e existem aqueles que vão ao extremo e só faltam não usar a moto para não sujá-la.
João Maia, um grande amigo norte-rio-grandense, é desses que não suportam ver um grão de poeira na sua belÃssima Kawazaki Nomand 1500.
Estávamos em Martins-RN, em mais um agradável evento motociclÃstico naquela aprazÃvel cidade serrana. Durante o tradicional passeio ao distrito denominado Serra do Pinto, estacionamos as motos e fomos em busca de cervejas para refrescar a manhã ensolarada.
Depois, com latinha na mão, voltei para a pracinha onde havia estacionado minha moto e fiquei a conversar com o Paulo Guedes (Dragões Indomáveis) e o Morcegão (B17 –RN) ao lado da Nomand do Maia, admirando a máquina.
Dois moleques sujos e mal vestidos, com idade entre oito e dez anos, também tinham bom gosto e pararam para olhar com incontida admiração aquela clássica maravilha da mecânica e da tecnologia em duas rodas.
Morcegão, muito bem humorado disse para os moleques que a moto era dele e perguntou se não queriam montar para experimentar a sensação. Os meninos arregalaram os olhos de animação e o Paulão, para não perder a traquinagem, ofereceu picolés aos pivetes e disse que ia bater uma foto para eles.
Imaginem o cenário: dois meninos sujinhos chupando picolés (que se derretiam ao calor) montados numa reluzente motocicleta cujo dono tem um zelo excepcional.
Não deu outra; quando João Maia, de dentro do bar, viu sua moto sendo violentada, largou tudo o que fazia e numa velocidade de relâmpago desceu em uma só passada os três degraus entre a porta do bar e a rua e botou os meninos para correr, xingando os folgados cabrinhas da peste e acertando aqui e ali algum cascudo.
Enquanto os coitados dos moleques sofriam sem entender o motivo, disfarcei fazendo de conta que tirava uma foto dos dois amigos, os três fazendo um esforço sobre humano para segurar a risada.